sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Oooooooooops!!!!!!!!!!!!!


Já somos um país moderno!
Já temos um lóbi nuclear como os grandes!

Concedo que no actual contexto energético é admissível que se discuta esta hipótese, contudo...

-Faz-me alguma impressão que seja um processo liderado por um empresário. É um investimento demasiado caro, a médio-longo prazo e com demasiadas contra-indicações para que um empresário luso o considere devidamente;
-
O sub-produto energético das centrais nucleares é exclusivamente a electricidade. Ora, Portugal já praticamente não produz electricidade a partir do petróleo, mas sim do carvão, pelo que o argumento da carestia do preço do petróleo não cola;

-Construir apenas uma central nuclear não tem sentido, mas sim uma rede de centrais nucleares para que se produza o ganho de escala e eficiência que torne o investimento menos oneroso. Ora, num país da dimensão de Portugal, uma rede de centrais nucleares não só é impensável como estúpido;

Mas estes são os argumentos menos determinantes. O que há efectivamente a considerar é o seguinte:

-Se não me engano andamos há 10 anos para decidir o que fazer aos resíduos industriais perigosos. O que fazer, então, dos resíduos radioactivos inevitavelmente produzidos a partir deste processo? Depositamo-los numa lixeira a céu aberto? Escondemo-los numa mina e esquecemo-nos deles? Atiramo-los ao mar?

-Por último, lembro que neste país caem pontes e passadeiras aéreas devido à falta de manutenção e incúria das autoridades competentes. Será que no caso da central nuclear vamos, por uma vez, levar as coisas a sério e actuar devidamente?

Duvido... mas não me apetece fazer o teste!

Futebol e Ciência

Já não bastavam os disparates do nosso Professor Doutor Ministro Freitas do Amaral acerca da potencialidade dos jogos de futebol para o alcance da concórdia universal... O Presidente da Comissão Europeia (que cada vez mais prestigia Portugal) interrogava-se, num destes dias, acerca da reduzida capacidade da Europa para atracção de cientistas quando, pelo contrário, tão bem o fazia relativamente aos futebolistas.

Até parece que em Portugal o futebol é a medida de todas as coisas e um elemento basilar na compreensão do mundo. Se calhar é mesmo assim e eu é que ando enganado... pensando melhor, até ajuda a explicar muita coisa que por cá se passa.

Mas quem tem pelo menos dois neurónios comunicantes dá-se imediatamente conta da alarvidade do raciocínio:

1- Os EUA são o maior competidor, face à Europa, no desenvolvimento científico e tecnológico e com maior capacidade de recrutamento de recursos humanos o que não acontece no soccer (o futebol deles é outro);

2- Ao contrário dos recursos humanos em C&T, a formação (inicial) de futebolistas de pouco mais necessita do que uma bola e uns companheiros de jogo - como o atestam os países hoje em dia liderantes neste mercado (africanos e sul americanos);

3-Escolas, Universidades, Bibliotecas, Laboratórios, Centros de Investigação, Instrumentos de Financiamento, Regulação e Competitividade nas Actividades Científicas, Empresas e Mercado de Trabalho apetentes à integração dos recursos humanos e produtos oriundos do sistema de C&T. Tudo isso é um aborrecimento. O melhor é mesmo pensar de acordo com o pontapé na bola.

Há que reconhecer, no entanto, a potencialidade e excelência deste país num segmento específico de produtos: a exportação de cretinos!

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Pós-expos

O processo de reconversão dos terrernos antes designados por Expo 98 resultou no que já bem se conhece. A associação de malfeitores composta pela banca, agentes imobiliários, construtores civis, gestores da Parque Expo SA (cujos ordenados dependiam das receitas geradas) e autoridades públicas lenientes conduziu à edificação de uma autêntica "Reboleira da classe média-alta".
Em Sevilha a situação é bem mais curiosa...
Na Cartuja sobrevivem ainda alguns dos edifícios originais utilizados para outras funções em estreito convívio com um gigantesco parque de estacionamento selvagem e outros cenários dignos do Mad Max
Depois de tratarem da Cova do Vapor, os magníficos gestores da Parque Expo bem podem mudar-se para a capital da Andaluzia e dedicar-se ao rentável retalho proporcionador de "novas centralidades".

sábado, fevereiro 11, 2006

Gosto deste bicho


Um leopardo das neves, filmado por uma equipa da BBC, que tem os melhores documentários do mundo.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Gosto destes cartoons


Não, não têm o Maomé. Mas a morte é uma das personagens. Nas minhas diatribes contra os desenhos animados actuais, algumas excepções têm de ser reconhecidas e esta é uma delas. Produto do Cartoon Network, as aventuras de Billy e Mandy com a ceifeira negra são uma pérola. Histórias macabras onde entram monstros e demónios, onde o fim do mundo, individual ou colectivo, está a apenas um passo, onde desmembramentos e eviscerações são acontecimentos frequentes, mas que se passam nos cenários comezinhos da suburbia: a casa, a escola, o parque infantil. A Morte perdeu uma aposta e viu-se agarrada a um pacto de amizade com duas crianças terríveis, o desmiolado Billy e a cínica Mandy. Humor do mais negro que há, mas uma delícia...

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

Gosto deste livro


Admito que tenho uma parcialidade por livros grandes. Não aprecio particularmente contos nem pequenas novelas, por mais que sejam diminutas jóias, esforços admiráveis de precisão e contenção, demonstrações de mestria no domínio das palavras e das figuras de estilo. Eu gosto mesmo é de histórias e quando uma história é envolvente e bem contada, então quanto maior melhor. Agora estas 1000 páginas serão talvez um exagero... Este livro é um exercício admirável que cruza o pastiche de um romance do século XIX com um pressuposto fantasista, com um labor de notas de rodapé evocativo dos livros académicos. É um livro sobre a prática da magia em Inglaterra nos alvores de oitocentos mas o que o torna tão fascinante não são os espectaculares feitos de feitiçaria, que são escassos, mas sim a imbricação deste elemento de irrealidade num contexto muito prosaico e realista: a vida quotidiana, as relações de classe e de género, as viagens, a nascente industrialização, as guerras napoleónicas, o governo de um país. E sobretudo, o que talvez apelou mais ao meu interesse, a magia é concebida muito à semelhança das disciplinas científicas emergentes na época: a passagem de uma actividade amadora a profissional, a importância dos veículos de disseminação escrita (os livros, as publicações periódicas), a controvérsia e a conflitualidade, a formação de "escolas" e correntes de pensamento, as academias e clubes, a tensão entre teoria e prática, as restrições ao acesso à profissão, a construção da imagem pública do "mágico louco".
Agora é certo que a narrativa se perde ligeiramente em episódios acessórios, na multiplicação de personagens pouco úteis e até no desperdício de figuras que parecem centrais mas que depois se limitam a uma aparição fugaz.
Mas é um óptimo entretenimento, em certos momentos humorístico, magistralmente bem escrito e garantia de umas dezenas de horas bem passadas. O que mais se pode pedir?