domingo, abril 24, 2005

Wanderlust

É algo que me dá de tempos a tempos. Uma vontade de partir, fazer as malas e embarcar num avião. Não significa um descontentamento com a minha vida actual. Nem desejo de estar só, porque não concebo uma viagem sem o dragão verde. É uma pulsão por mudar de ares, ver-me livre de um país que me desgosta, nem que seja por uns dias. Passear, ver coisas bonitas num museu, ler a imprensa local, falar uma língua estrangeira, estudar um mapa, planificar os dias para aproveitar cada instante, sentar-me numa esplanada em frente a um monumento, dormir num quarto de hotel, comer refeições indígenas, palminhar as ruas, fotografar cada paisagem urbana que me desperta o interesse, comprar livros, usar os transportes públicos, descansar num banco de jardim, escrever postais, saborear cada instante e guardá-lo na memória como um tesouro. Não é um wanderlust campestre nem exótico, nem de praias nem de montanhas. É um wanderlust urbano, europeu, civilizado. E começa a dar-me formigueiro nos pés...

quinta-feira, abril 21, 2005

Vantagens de uma boa imprensa...

Ainda não tinha escrito o meu primeiro post sobre o governo socialista...
Devo confessar que gostei daquele impulso inicial de pisar os calos ao lóbi dos comerciantes de medicamentos. Teve a importância que teve (nula) mas considerei-a uma boa entrada em jogo.
Desde lá até agora,devo dizer que me irritaram diversas medidas. Tenho estado contido mas já não consigo resistir durante mais tempo. Vou, então, enumerá-las:
1. A profunda idiotice de enviar delegados do ministério público (ou até juízes) em acompanhamento (coordenação? emissão de mandatos?) de rusgas policiais;
2. A cretinice dos 1000 estágios para jovens licenciados em ciências e engenharia a integrar nas PME. Se estas deles necessitassem efectivamente (ou seja, se houvesse uma clara determinação das necessidades de recursos humanos por parte da direcção das PME) já os teriam contratado. Assim, com subsídio estatal e tudo, devem ficar a tirar fotocópias das facturas ou a preencher as declarações de IRC e IVA. Até parece que já estou a ouvir os empresários em reunião de amigos a gozar com o assunto;
3. A rematada estupidez dos 500 estágios (300, de primeira, para licenciados provavelmente em locais glamorosos; 200 de segunda para ex-alunos das escolas profissionais, certamente para irem coser bolas de futebol e chuteiras no Paquistão) nas 7 (?) partidas do mundo, em grandes empresas mundiais, supostamente para irem aprender como se inova. Já estou a ver muito bom filho de boas famílias a manobrar para conseguir um destes estágios e depois encontrar um bom emprego nas empresas do costume que todos nós suportamos com os nossos impostos.

O governo do Santana produzia avidamente as já conhecidas idiotices e no próprio dia ou no seguinte deparava-se com a inevitável barragem crítica. O que é feito desta perante semelhante rol do novo governo? Será a imprensa maioritariamente de esquerda? Será o estado de graça?
Por agora chega. Vou investigar as novidades relativas à segurança social e já volto.

domingo, abril 17, 2005

Gosto deste filme


zissou
Originally uploaded by Aloysius.
Raramente saio do cinema com semelhante sensação de maravilhamento. Não é um filme, é uma experiência. É impossível elencar tudo o que deslumbra nesta obra-prima. As personagens da equipa Zissou. O barco. A ilha peixeespada. O design seventies. As cores. As músicas do David Bowie em brasileiro. O mar. As peripécias do argumento. O cão perneta. Os piratas filipinos. A fauna fantasiosa. A geografia inventada. A ciência parodiada. As cenas de acção roubadas a filme série Z. Os actores. A terna homenagem aos documentários do Cousteau da minha infância. O clube dos exploradores. O tema da recomposição familiar e dos dilemas da paternidade. A viagem final no submarino. Gosto mesmo muito deste filme. Muito.

quarta-feira, abril 13, 2005

Gosto deste livro


O autor ficou muito mais conhecido com a série de livros sobre uma mulher detective no Botswana. Mas esta triologia (no que se confirma a minha preferência por livros múltiplos) é anterior e de todo inferior. As aventuras de um professor de filologia românica alemão garantem horas de diversão e mesmo de riso incontido. As idiossincracias académicas, os chauvinismos teimosos, as difíceis relações com o sexo oposto, as viagens, os cães salsicha, os países de opereta da América do Sul, nestes livros cabe um caleidoscópio de personagens e situações díspares e intrigantes. Não será talvez uma obra prima, mas, dentro da literatura humorística, é do melhor que há.

terça-feira, abril 05, 2005

O poder na ponta dos dedos

Se eu tivesse de nomear a mais importante transformação tecnológica das últimas décadas, o que me viria logo à cabeça é a internet. Talvez haja outras inovações - na área da saúde, ou dos transportes, ou do trabalho - que tenham um impacto mais profundo na minha vida, mas a internet mudou o meu quotidiano.
Se a informação é realmente poder, que extraordinário manancial de domínio está agora à nossa disposição através de um simples terminal de computador. É certo que circula na net muita informação falaciosa, errada, mistificadora, não comprovada, difamatória, etc. E que são tenebrosos os usos que podem ser feitos dos dados pessoais que residem em multiplos sítios na rede. E que se abrem portas à fraude, ao plágio, à cópia ilegal. E que provavelmente a esmagadora utilização deste recurso se dirija para o entretenimento, os jogos, a pornografia, a conversa de chacha.
Mas que mundo de possibilidades se abre com a internet. Consultar uma enciclopédia, ler um livro ou um artigo científico, verificar uma data ou um nome, estar a par das notícias, marcar uma viagem, comprar um frigorífico, ouvir música, ver um filme, visitar um museu virtual, encontrar um poema, conferir a grafia de uma palavra ou o significado de uma expressão, pesquisar uma receita, fazer a inscrição num congresso, procurar emprego, reservar um bilhete para um espectáculo, falar com amigo distante.
Nenhum destes actos é verdadeiramente novo. Mas poder realiza-los todos do conforto de casa, sentado numa cadeira, apenas pela pressão dos dedos num teclado, é magnífico.

domingo, abril 03, 2005

Gosto desta música



Johannes Sebastian Bach é para mim o maior entre os mestres. Entre centenas de obras-primas, esta é talvez a minha preferida. A harmonia perfeita tão típica do barroco é levada ao extremo, aos limites do sublime. Lembra-me bosques verdejantes num dia de sol, o sol a brilhar entre as folhas das árvores, um regato a correr através de um prado, um dia de sonho. Música para louvar a deus.

sábado, abril 02, 2005

Os homens da minha vida


errol
Originally uploaded by Aloysius.
De collants e espada na mão, o mais destemido dos heróis. Fora da lei, flibusteiro, cowboy, cortesão, era nos filmes de aventura de época que mais brilhava. Talvez fosse um actor limitado, mas destilava charme de todos os poros. A sombrancelha arqueada, o sorriso malandro, as proezas acrobáticas para resgatar a pobre donzela em perigo. Nasceu na exótica Tasmânia e teve uma série de empregos bizarros antes de se tornar actor. Ao que parece a Olivia de Havilland não o podia ver nem pintado, tinha simpatias nazis e uns processos legais obscuros por sexo com menores. Acabou alcoólico e falido, a representar-se a si mesmo em filmes melancólicos. Mas é para mim o melhor espadachim da tela e um dos homens da minha vida.

sexta-feira, abril 01, 2005

Espírito da Primavera

I wander'd lonely as a cloud
That floats on high o'er vales and hills,
When all at once I saw a crowd,
A host of golden daffodils,
Beside the lake, beneath the trees,
Fluttering and dancing in the breeze.


Continuous as the stars that shine
And twinkle on the Milky Way,
They stretch'd in never-ending line
Along the margin of a bay:
Ten thousand saw I at a glance,
Tossing their heads in sprightly dance.

The waves beside them danced, but they
Outdid the sparkling waves in glee:—
A poet could not but be gay
In such a jocund company!
I gazed, and gazed, but little thought
What wealth the show to me had brought:

For oft, when on my couch I lie
In vacant or in pensive mood,
They flash upon that inward eye
Which is the bliss of solitude;
And then my heart with pleasure fills,
And dances with the daffodils.

W. Wordsworth