Era uma vez uma loja. Nascida num pequeno país nórdico, umas décadas depois está espalhada por todo o mundo, da Bélgica a Singapura, da Roménia ao Kuwait, da Islândia à Austrália. O nome não varia, nem o logotipo, nem os produtos (excepto o prato local no restaurante). Para vender os produtos, vende também um conceito, uma filosofia de vida, um Weltanschauung. Que é um todo um programa democrático: todos podem comprar porque é barato, porque é bom (relativamente), porque é bonito; todos podem montar os móveis porque é fácil (relativamente), porque vendem todos os instrumentos e acessórios necessários, porque as instruções nem legendas têm; todos podem ter uma casa ikea porque vende de tudo, da máquina de lavar loiça à toalha de banho, do garfo à mesa da sala, do colchão aos quadros para pendurar na parede.
E tem todos os atributos da pós-modernidade: não conhece barreiras no espaço nem no tempo (há móveis de todos os estilos e modas, do interior rústico ao ultra-modernismo elegante dos 70, ), é tão global como local (veja-se o restaurante e a loja de gastronomia sueca), exibe as preocupações pós-materialistas da ecologia (as embalagens recicláveis, as madeiras de florestas sustentáveis), da identidade pessoal (a casa como um reflexo do eu), do multiculturalismo (veja-se os personagens presentes na publicidade), da aceleração da mudança (com preços assim e materiais tão pouco robustos, não há outro remédio que não trocar de móveis a cada par de anos).
Esta cadeia é um verdadeiro Juggernaut: por onde passa esmaga a concorrência, obriga-a a seguir o seu estilo, massifica o gosto, abate os preços. É um verdadeiro produto da modernidade avançada.
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