Tenho uma relação de amor/ódio com a publicidade. Há anúncios geniais, verdadeiras obras de arte, divertidos, inteligentes, tecnicamente assombrosos, que ficam no ouvido e na retina. Mas depois há uma esmagadora maioria de spots publicitários que são lixo mediático, poluição sonora e visual, atentados à inteligência, subtilmente (ou nem por isso) sexistas, racistas, discriminatórios.
Em boa parte dos anúncios as mulheres são representadas alternativamente como fadas do lar, anjos de perdição, tontinhas que carecem da orientação dos maridos, consumistas vorazes, mães extremosas, noivas interesseiras, bimbas pneumáticas semi-despidas. Mas como isto é um país de brandos costumes, sem tradições cívicas, em que as reivindicações de igualdade e tratamento justo não estão nunca na moda, não há quem levante a voz contra isto. Não é uma questão de feminismo desgrenhado, é uma questão de direitos humanos básicos. Havia de ser na minha amada Inglaterra, onde ao mais pequeno desvio chovem queixas na autoridade reguladora da comunicação...
E que não se pense que é uma questão de somenos. O que se vê na publicidade, vê-se no resto dos media, sobretudo nos programas televisivos. E como a televisão é a babysitter das gerações mais recentes, é esta a mensagem a que meninos e meninas são expostos, com que aprendem a ler o mundo e a agir sobre ele.
Claro que há excepções. Anúncios que mostram homens a aspirar a casa, a lavar a loiça, a levar os filhos à escola. Anúncios que mostram mulheres a trabalhar, a tomar decisões financeiras, a exercer posições de responsabilidade. Mas o problema é esse mesmo, são excepções, destacam-se tanto que provavelmente resultam mais de uma inovadora estratégia de marketing que de um genuíno desejo de tornar a publicidade mais justa, mais moral.
Por enquanto, a publicidade continua um dos meus ódios de estimação.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário