Por obrigação profissional, sou frequentadora assídua de colóquios, conferências, congressos e coisas afins. Às vezes como espectadora, outras vezes como parte do espectáculo. Ao longo dos anos tenho desenvolvido um ódio de estimação equitativamente distribuído por conferencistas e público (não todos, obviamente, mas uma significativa maioria).
Os oradores têm o condão de me irritar de múltiplas maneiras. Uns levam o textinho escrito, geralmente redigido para ser lido e não para ser ouvido, com vocabulário esotérico e construções frásicas barrocas, e conseguem aborrecer o auditório até às lágrimas com uma leitura monocórdica e sonolenta. No pólo oposto, outros tornam a conferência num espectáculo multimédia, com exuberantes dramatizações e passes de mágica, acompanhadas de uma apresentação em slides multicolores e com uma assustadora profusão de setas e esquemas elaborados. Nestes casos o conteúdo geralmente não abunda e a sua ausência é mascarada com chavões sonoros e rótulos espampanantes, anedotas e historietas humorísticas.
Depois há os que conseguem ignorar por completo o tema do colóquio e a audiência alvo e apresentar a mesma velha comunicação, que já foi proferida em inúmeros contextos distintos nos últimos três anos. Há ainda os que teimam em ocupar todo o tempo da sessão, desprezando por completo os minutos que lhe foram alocados, cilindrando os restantes oradores, o moderador, o público. E geralmente ainda conseguem monopolizar o debate, aproveitando uma questão que lhes é dirigida para falar do que lhes apetece, mesmo sem relação alguma à pergunta.
O público também não é muito melhor. Entra atrasado, faz questão de se sentar ao lado de amigos e conhecidos, cumprimentando-os audivelmente e aproveitando para retomar a conversa que ficou a meio antes da abertura do colóquio ou no intervalo. Ri-se efusivamente das idioteiras do orador-entertainer, porta-se mal quando o orador é mais sério e aborrecido. Mas nada me irrita mais que os debates que se seguem ao colóquio. Há sempre o elemento do público que se vinga de não ter sido convidado para orador fazendo a sua própria alocução, o que insiste em contar historietas pessoais, o que faz perguntas a despropósito...
Não há paciência...
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário