quarta-feira, fevereiro 02, 2005

Ódios de estimação

Odeio arquitectos. Não as pessoas, não a disciplina em sim, mas a classe profissional responsável pelas monstruosidades que passam por grandes obras de arquitectura, inclusive as que ganham prémios de nomeada. Ninguém tem menos respeito pelos clientes/utentes/utilizadores. É dada tal primazia à forma, ao arrojo, à inovação, que as reais necessidades dos humanos que têm de habitar, trabalhar ou frequentar os edifícios são quase totalmente ignoradas. Para já as questões de acessibilidade: escadarias imensas, portas estreitas, corredores sinuosos são desafios muitas vezes intransponíveis para quem se desloca de cadeira de rodas, empurra um carrinho de bébé ou que tem simplesmente dificuldades de locomoção. Depois os problemas de ruído: grandes espaços abertos onde cada palavra ecoa, pavimentos onde os sapatos rangem, má insonorização das paredes são factores de poluição auditiva. Seguem-se as questões ambientais, das grandes superfícies de vidro num país ensolarado à infeliz escolha de materiais, tudo apela ao uso ao desbarato do ar condicionado. Há ainda a mencionar os puros e simples disparates: janelas demasiado pequenas ou demasiado grandes ou colocadas no sítio errado, rampas intermináveis, esquinas armadilhadas, becos sem saída, escadas perigosas, saídas de emergência escondidas... Já para não falar da atroz fealdade de alguns prédios, onde tudo - do uso das cores à volumetria, das decorações à altura desmedida - concorre para chocar as sensibilidades estéticas mais dormentes. Assim sendo, não é de estranhar este meu ódio de estimação...

Sem comentários: