sábado, dezembro 31, 2005

Votos de Ano Novo

Que 2006 traga trabalho, dinheiro, viagens, saúde, comida, bons livros, bons filmes, amigos, bom humor, a anexão pela Espanha, a extinção da espécie humana. Por nenhuma ordem em especial.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Gosto deste bicho



É exótico, é feroz, é carnívoro, é marsupial, é australiano. Chama-se diabo da Tasmânia e inspirou um personagem de desenhos animados muito divertido.

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Contos da modernidade avançada


Era uma vez uma vetusta instituição museal, velha de um quarto de milénio, rica como Cressos, epítome do saber curatorial, pejada de curadores de currículos longuíssimos, recheada de tesouros inigualáveis, sediada na capital do mundo civilizado. E era uma vez um artista de graffitti irreverente, que enche as ruas desta capital de desenhos sarcásticos (ver aqui). Durante um par de dias este curioso exemplar de arte rupestre esteve pendurado nas paredes da vestusta instituição, acompanhado de uma esclarecedora legenda: "homem primitivo aventura-se em terrenos de caça fora da cidade. Este exemplo de arte primitiva em óptimo estado de conservação data do período Pós-Catatónico." E mais umas quantas irónicas referências que ao que parece passaram por sérias reflexões académicas... Pois, ao que parece a arte trocou as voltas aos sistemas periciais... Depois a "obra de arte" foi retirada de exposição e tudo voltou à normalidade. É assim a modernidade avançada.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Gosto deste livro



Talvez seja mais exacto dizer que gosto deste autor. Não é alta literatura, não é Proust, não é sequer do melhor que a ficção britânica contemporânea oferece, mas certamente proporciona horas de boa leitura, de diversão, de entretenimento inteligente. Quer as aventuras africanas da primeira mulher detective do Botswana, quer as atribulações do professor alemão de filologia românica especializado em verbos irregulares portugueses, quer agora as várias séries que têm Edimburgo como pano de fundo são imperdiveis. Histórias simples, personagens memoráveis, humor inesperado e um sentido moral pervasivo fazem destes livros uma boa companhia em tardes de sol, noites de chuva e manhãs nubladas.

O exemplar em questão é de facto a versão em livro de um folhetim diário publicado num jornal escocês, inspirado nas crónicas de São Francisco de A. Maupin. Na minha modesta opinião o émulo supera o original, mas isto dever-se-á sobretudo à minha europofilia (e sobretudo anglofilia)impenitente. As histórias cruzadas dos habitantes de um prédio da New Town de Edimburgo devolvem-me ao que é uma das cidades da minha vida. Há uma antropóloga sábia, uma rapariga que não sabe o que quer da vida, uma mãe obsessiva com o sucesso do filho em idade pré-escolar, um rapaz mau carácter, um pintor com um cão alcoólico, uma proprietária de café literata, um dono de galeria ignorante em pintura e em tudo o resto mas de bom fundo... E há sobretudo a cidade, com os cafés, as lojas, as ruas, os museus, os túneis secretos, as estações de comboio, os parques e jardins, os hotéis... Por tudo isso, gosto deste livro.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

O dragão fatalista

O destino marca a hora
Pela vida fora
Que havemos de fazer
O que rege a sorte agora
Foi escrito outrora
Logo ao nascer

O relógio marca o tempo de viver
Todos nós somos iguais
Se o destino nos condena
Não vale a pena lutarmos mais

O passado nunca volta, podes crer
O futuro não tem dono
Toda a flor por mais bonita há de morrer
Quando chega o seu Outono

Temos hoje para viver toda uma vida
Amanhã que longe vem
A saudade está escondida
Num destino por medida
Para nós dois e mais ninguém

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Nostalgia


É de certeza uma marca da minha idade avançada o facto não só de considerar que na minha infância as séries de televisão eram melhores mas também de o estar constantemente a repetir.
E esta é certamente uma das minhas favoritas. Francesa, é um sequela de uma série sobre a história, "Era uma vez o Homem", e antecede outra com os mesmos bonecos, de cariz ainda mais didáctico, "Era uma vez o corpo humano". Politicamente correcta, há novos e velhos, homens e mulheres, de cores variadas. Os maus eram facilmente identificáveis pelo grande nariz vermelho, provinham de Cassiopeia e o seu símbolo era formado pelo W da constelação.
Confesso que não me recordo bem das histórias. Mas passava-se no espaço, tinha naves, lutas, planetas, a eterna luta do bem contra o mal. E eu nesta altura queria tanto ser astronauta...
E a música, pelo menos a versão portuguesa, era brilhante... Quem me dera saber por ficheiros audio no blogue...

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Contos da modernidade avançada

Era uma vez uma viúva de um alto dignatário ou um funcionário de um banco/hospital/empresa algures em África, que tem conhecimento de uma avultada soma escondida pelo marido / perdida numa conta / que sobrou de um contrato. Pessoa inquestionavelmente honesta, com uma extensa família para alimentar, apenas procura reparar uma injustiça que lhe foi feita ou aproveitar um vazio legal quanto ao destino a dar ao dinheiro. Escreve uma carta electrónica, endereçada a alguém, algures, confiante na probidade do destinatário, prometendo uma percentagem do bolo, em troca da utilização da conta bancária para uma transferência. Fornece pequenos detalhes, como nomes de empresas, de localidades, links para sites de órgãos de informação que corroboram a história. O que esta carta electrónica não diz é que o destinatário terá de pagar uma pequena soma, irrisória face à fortuna que receberá, para a tramitação burocrática do processo. Também não diz que o destinatário cúpido e ingénuo nunca mais verá essa pequena soma. Chamam-lhes cartas da Nigéria, mas provêm de várias partes do mundo e chegam-me às dezenas por semana. Ando a coleccioná-las, para um dia escrever um romance sobre as desgraças do mundo. É assim a modernidade avançada.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Os homens da minha vida


O Bond definitivo. Uma voz hipnótica, um áspero sotaque escocês, charme da cabeça aos pés, um andar felino, a epítome da elegância dentro de um smoking nas cenas de casino, letal com a Wahlter PPK, imbatível com os punhos, irresistível para a míriade de bond girls. As histórias podem ser previsíveis, as aventuras amorosas um bocado foleiras, os vilões incredíveis, mas são os cenários exóticos, a paixão pela tecnologia e a infabilidade do herói que tornam estes filmes míticos.
Depois há toda a carreira pós-bond que o confirmou como um actor de referência. O monge detective no clássico "Nome da Rosa", o velho polícia honesto de "Os intocáveis", o aventureiro de fim trágico em "O homem que queria ser rei", o ladrão de bom coração em "O dossier Anderson", o espadachim imortal no "Highlander", o guerreiro semi-despido em "Zardoz", o carismático pai do Indiana Jones no terceiro capítulo da saga, um dos assassinos na melhor adaptação do "Crime do Expresso do Oriente", um Robin Hood envelhecido no "Robin e Marion". E a lista continua. Um compatriota escocês que é um dos homens da minha vida.

domingo, dezembro 04, 2005

Outono

Adoro esta altura do ano. Adoro o frio. Mais um cobertor na cama, uma manta no sofá, saias de lã e casacos compridos. Adoro os dias cinzentos, os céus plumbeos, a chuva a cair, as nuvens densas cortadas por um raio de sol. Não me importo nada que seja de noite às 5 da tarde. Sobretudo se não tiver de andar na rua. Adoro um chá quentinho, uma empada a sair do forno, vin chaud, fritos de Natal. Adoro as cores dos campos do Alentejo, as folhas caídas, o verde perene dos abetos. Adoro o cinzento do mar nos dias de tempestade, as trovoadas, a promessa de neve nunca cumprida. Umas pantufas de pele de carneiro, um gato ao colo, filmes lamechas na televisão. Adoro a antecipação do natal, as ruas iluminadas, as montras decoradas, os magotes de gente às compras na Baixa como se não houvesse crise. Talvez sejam os meus genes celtas, mas esta é para mim a melhor altura do ano.