sexta-feira, dezembro 09, 2005

Contos da modernidade avançada

Era uma vez uma viúva de um alto dignatário ou um funcionário de um banco/hospital/empresa algures em África, que tem conhecimento de uma avultada soma escondida pelo marido / perdida numa conta / que sobrou de um contrato. Pessoa inquestionavelmente honesta, com uma extensa família para alimentar, apenas procura reparar uma injustiça que lhe foi feita ou aproveitar um vazio legal quanto ao destino a dar ao dinheiro. Escreve uma carta electrónica, endereçada a alguém, algures, confiante na probidade do destinatário, prometendo uma percentagem do bolo, em troca da utilização da conta bancária para uma transferência. Fornece pequenos detalhes, como nomes de empresas, de localidades, links para sites de órgãos de informação que corroboram a história. O que esta carta electrónica não diz é que o destinatário terá de pagar uma pequena soma, irrisória face à fortuna que receberá, para a tramitação burocrática do processo. Também não diz que o destinatário cúpido e ingénuo nunca mais verá essa pequena soma. Chamam-lhes cartas da Nigéria, mas provêm de várias partes do mundo e chegam-me às dezenas por semana. Ando a coleccioná-las, para um dia escrever um romance sobre as desgraças do mundo. É assim a modernidade avançada.

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