Na minha ingenuidade, eu sempre achei que "multicultural" era a) um conceito das ciências sociais, que descreve um estado de coisas nas sociedades actuais ou b) uma coisa boa, um valor a ser preservado, uma atitude de tolerância (no sentido de abertura, não de "tolerar" os diferentes), uma adesão à natureza cosmopolita da vida. My mistake. Afinal (pelo menos para alguns, como o presidente da França e o chefe dos católicos portugueses) é uma coisa tenebrosa, uma afronta à identidade nacional, um risco temível para os bons europeus/franceses/portugueses.
E pronto, acabe-se já com os restaurantes indianos em Paris. Expulse-se os fiéis brasileiros das igrejas espanholas. Deporte-se as comunidades portuguesas na Venezuela. Expurgue-se a língua inglesa de todas as palavras que resultaram da crioulização. Proiba-se as especiarias dos pratos alemães. Silencie-se o Manu Chao das rádios europeias, quem nem se sabe bem de onde é que ele vem. Interdite-se a exportação de fatos italianos para Singapura. Mande-se de volta as enfermeiras ganesas que trabalham no serviço nacional de saúde britânico. Bana-se as séries americanas dos canais de televisão suecos. Repatriem os não nacionais do campeonato italiano.
Era um mundo muito melhor, não era?
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