segunda-feira, março 03, 2008

E desde quando multicultural é uma dirty word?

Na minha ingenuidade, eu sempre achei que "multicultural" era a) um conceito das ciências sociais, que descreve um estado de coisas nas sociedades actuais ou b) uma coisa boa, um valor a ser preservado, uma atitude de tolerância (no sentido de abertura, não de "tolerar" os diferentes), uma adesão à natureza cosmopolita da vida. My mistake. Afinal (pelo menos para alguns, como o presidente da França e o chefe dos católicos portugueses) é uma coisa tenebrosa, uma afronta à identidade nacional, um risco temível para os bons europeus/franceses/portugueses.
E pronto, acabe-se já com os restaurantes indianos em Paris. Expulse-se os fiéis brasileiros das igrejas espanholas. Deporte-se as comunidades portuguesas na Venezuela. Expurgue-se a língua inglesa de todas as palavras que resultaram da crioulização. Proiba-se as especiarias dos pratos alemães. Silencie-se o Manu Chao das rádios europeias, quem nem se sabe bem de onde é que ele vem. Interdite-se a exportação de fatos italianos para Singapura. Mande-se de volta as enfermeiras ganesas que trabalham no serviço nacional de saúde britânico. Bana-se as séries americanas dos canais de televisão suecos. Repatriem os não nacionais do campeonato italiano.
Era um mundo muito melhor, não era?

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